Guarda-chuva


Eu acordo num dia qualquer
e não enxergo o cessar da chuva;
é foda pensar que sequer
as entranhas daquela história
resistiram a essa obliteração absurda.

Dia e noite não fazem sentido
quando as nuvens são tão densas;
e desde que eu a vi partindo
nunca descobri o que é resiliência.

Mas o barulho das gotas em meu telhado
já faz parte dos meus sonhos
e eu me vejo piamente atormentado.

E mesmo que eu implore para que não entre
esse vento gélido em forma de lembrança
ele insiste e me agride sem relutância
e eu peço, em troca, que essa chuva pare.

Ela não para, e está a cada dia mais presente
desde o dia que as lágrimas passaram a ser frequentes.

Eu vejo as pessoas que um dia já amei
e que um dia arriscaram me amar
debaixo dos seus guarda-chuvas coloridos;

mas aquele guarda-chuva negro em específico
é exatamente lá que eu queria estar

pois só debaixo dessa sombra que ele produz
eu consigo ver as cores de tudo que eu sonhei; 
e por fim, o sol e a sua luz.

A Queda, René Magritte


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