Toalha Molhada


vai
que não se espera ninguém
é como te disseram
que fazer o que lhe convém
não é fazer o que é preciso.

minhas mãos segurando a face
como se fosse capaz de se esvair
e bem melhor que se esvaísse
para não mais ter esse porvir

de estar cansado constantemente
com tantas tragédias internas e imperceptíveis
a desolar de tal forma a minha mente;

de viver a vida tão somente
para essas coisas invisíveis
que me são espasmos da persona
enquanto a alma contra a carne se fricciona

vai, que a incoerência que me guiou
é a paixão que agora me mantém;

e se um dia ela já me cuidou
agora não cuida de mais ninguém;

é, eu sei, isso foi previsível
risível, desprezível, sequer é cabível
que não se rima com tanta preguiça
nem se vive com tamanha cobiça.

mas as pessoas entram e saem dessa casa
e no final ninguém esteve aqui;
a cama esperando com sua toalha molhada
que eu sei que não vou tirar dali

porque estou prestes a morrer
e eu quero fazê-lo
afinal viver me é saber
que amar com tal zelo
não é suficiente.

que não se vive só de apego
e vida é tão somente desespero
(nada coerente.)

mas não te preocupa que coerência
existe em demasia
mas estão nos livros de ciência
e se quiser apreciar poesia
terá que sofrer.

mas calma, que sofrer é bom
e a tranquilidade é verdadeiramente trágica
não se preocupa com o que vier depois
que a expectativa é onicofágica

e a toalha molhada permanecerá

mas eu há muito a observo
como um bom conformista que sou
e por fim eu só enxergo
ali, na toalha, a fé que me restou.

bem, mas esquece
que isso não tem nada a ver;
espero que goste de ouvir tanta merda
porque é tudo a mercê.
agora a porta está aberta
e você quer tanto ir?
então vai.

Autorretrato no Inferno, Edvard Munch

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