Monólogo Esquizofrênico

- Tem consciência da minha inexistência, sou criação sua.

- Isso não muda o fato. Piora, me alimento de fantasia.

- Se alimenta de mim?

- Não. Você se alimenta de mim.

- Sabe que não. Não executo ações. Se executasse, isso já teria acabado. Perde o interesse por tudo que conhece completamente. É imaturo demais para tolerar resultados exatos. Por isso distorce a realidade, deforma o que existe, o que é simples, para o entretenimento próprio. Mas é autodestrutivo demais para controlar isso. Sua criação ganha individualidade e se volta contra você. E é orgulhoso demais para aceitar isso. Quer o controle de volta, por isso tenta domar-me, entender-me e reduzir-me a exatidão. Mas, não existo de verdade. Sou uma ideia virtual que cresceu a partir de uma realidade simples, exata e inofensiva. Existo como um vírus, que você criou e alojou.

- A ausência me perturba.

- A minha ausência?

- Não. Não sinto falta do que não existe. Minha própria ausência me perturba.

- Você se contradiz. A esse ponto, você existe tanto quanto eu e ainda sim, sente sua falta. Possui um narcisismo doentio e sabe disso.

- Sua existência me anulou.

- Você se anulou. Anulou-se porque esqueceu o quanto a realidade é crucial. Tão crucial quanto a fantasia. Você estava anexado a realidade, porque era real. Quando a própria realidade é colocada em xeque, sua existência é questionada. Quanto mais próximo ficava de mim, mais prazeroso era. Porque a ilusão é prazerosa, a fantasia é entorpecente. A ilusão é o prazer. Proporcionalmente se afastava da realidade, sendo assim, de si mesmo e isso é a autodestruição. Sentir essas forças opostas lado a lado, conflitando dentro de você, te divertia. É masoquista por gostar do prazer.

- Mas, um dos fatores não existe mais. Abandonei a fantasia e me afastei de você. Ainda sim, fico cada vez mais distante de mim.

- Porque, paradoxalmente, sou grande parte de você. Como criação sua, temos a mesma essência. Sou um parasita que cresceu a partir de uma realidade, alimentado por fantasia. Sua fantasia. Nesse ponto, você se anulou.
Sou fruto de sua imaginação e alimento de sua imaturidade. 



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