Ao Avô


Eras forte em meu berço
de pequeno, tão frágil
mas seus braços eram fortes
lembro disso, agora, nesse poema de sufrágio.

Eras forte em meu berço
que era a cesta de sua bicicleta
tão bebê que nela eu cabia
havia acidentado no seu carro, não é, vovô?
Mas era forte, mesmo que a vida o rutilou
e continuou andando
mesmo cego demais para dirigir
mesmo cedo demais para cair.

Seu coração era fraco.
As artérias eram remurejados
cânticos de Deus.
E eu nem entendia, eu nem sabia.

O senhor estava fraco
cada vez mais fraco
com seus ossos quase que
em colapso, eu tinha que ajudá-lo.
Ajudá-lo.

Da estalagmite
tornou-se a galalite
e nada, nada
aconteceu.
Vovô, eu lembro que gritavas
e na maca levaram o senhor.

O cheiro do hospital, vovô
não sentiremos mais
sua mão, creio que já não mais apertarei
a última benção foi dada
e tenho certeza que você a sentiu
e mesmo tão senil,
sei que sente-se como um rei.


1941 - 2015

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