O Ferro e a Fera
Pesadelos antecipados, eu escuto.
Paralelamente arrepiados estamos
eu me escondo abaixo de um cobertor
eu mesmo morro
num lugar escuro.
Pesadelos antecipados, na penumbra
Já não me atingem mais
meu sangue, não mais
eu já tenho o que dizer
Já tenho o que fazer
já sei como agir
graças a você.
Um caminho já trilhado
mesmo pouco vivido...
- Está errado, sim, muito errado!
...mesmo já regurgitado.
Já contenho minhas ameaças,
já coleciono tuas pirraças,
já tenho o que fazer,
já tenho com quem contar
ao amanhecer.
Você é um pesadelo
- Sim, não mais!
Você é uma ilusão
sei que não existe
apenas finge-se de paixão
finge-se de amor
finge-se de tentação
apenas quer me arrastar
apenas me assassinar.
Procurando palavras certas
para me disfarçar
numa poesia mentirosa
meus sentimentos, eu posso negar.
Olhar de relance e sorrir,
arregalar os olhos...
- Dez anos que não tenho um pesadelo. Não acha muito?
...e gritar de loucura.
Ela sorri, ela me arranha, ela não deve mais gritar de prazer.
Na branquidão desse lugar desumano...
O algodão eu desmancho. Arrebento minha voz, quando grito...
E quando grito...
Ela já não pode mais, não deve mais gritar de prazer.
Eu finjo de morto novamente, eu repito.
Repito o processo milhares de vezes.
Cicatrizes de cortes que nunca somem.
Cicatrizes nunca somem.
Cicatrizes nunca somem.
Não choro mais,
mesmo sabendo que deixei de ser, dignamente, um homem.
Posso orar, posso unir minhas mãos e orar.
Eu posso olhar para o céu de novo.
Posso conferir as estrelas novamente
Não vai mais gritar de prazer.
Não vai sentir, não vai crer...
Não vai ser.
Eu posso continuar andando,
posso continuar sorrindo,
entretanto,
há ferrugem em meus passos.
Eu posso continuar olhando,
sentindo, ouvindo
tocando...
Posso andar por lugares estranhos,
mesmo assim
há ferrugem em meus passos.
São laços, abraços, fantasias, convicções.
Laços retalhados em abraços fantasiosos.
Laços, retalhos...
Ferrugem em meus passos.
Eu tento olhar para o meu fim
eu sorrio lembrando-se do começo
eu evito viver no meio
vivo fora de contexto.
Ela ainda pode gemer por mais
ela ainda pode esperar, sim, esperar
pode chorar por prazer
gozar de amor, sim, ela pode gozar de amor
e eu não vou me importar.
Deixe-a que implore.
Deixe a culpa ir.
Eu não dou ouvidos a sentimentos submissos
dou de ombros a ideias inovadoras
eu crio meu próprio oficio, já há tempo
eu me entorpeço com minha própria fertilização
faço de mim minha própria nação
entretanto, há ferrugem...
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