Texto Clandestino


Escrever não é um talento
ao contrário do que muitos pensam.
É um fardo.
Algo a se carregar nas costas, constantemente.
Está preso dentro de você.
E você está preso a ele.
Não é algo a se admirar.
À parte dos nossos compromissos habituais,
escrever é ter o compromisso adicional
de transformar toda a angústia em arte.
Você se acomoda.
Os seus pensamentos te seduzem a um novo escrito
onde os seus demônios poderão se esconder.
Aceite que estará fadado à podridão
e à decadência
a partir do momento que pegar este lápis
ou tocar nestas teclas.
É o fardo de ter de fitar o papel em branco
e ser cobrado por ele.
Da sua parte, não se vê compreensão
paciência ou carinho.
Se vê ansiedade.
Ele quer ser preenchido
e você é o único que sabe o quão desesperadamente.
Tudo se torna um vislumbre
um registro, e parece mais tênue
talvez pela insegurança
talvez pela sua nova e detestável tendência
de eternizar cada instante vivido.
As palavras te engolem,
pelo medo de serem devoradas antes.
Ninguém teme tanto o esquecimento
quanto as palavras.
Isso é o pior.
Elas sabem de tudo;
conhecem todos os seus crimes.
São suas únicas e sádicas testemunhas
e guardam - escondem em seu âmago - um cadáver
rígido e fresco
daquilo que você era
antes de começar a escrever.

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