Suas Coisas


Eu nunca me achei.
Também, sendo bastante honesto
Nunca me foi bem visto
O bom desejo de me explorar
Pois, a impressão que me deixa
A casca que lavo e alimento todos os dias
É de que o superficial é minha camada mais densa.

E não me achar foi dádiva
Pois na estranha alienação de mim mesmo
Me preservei intacto à mão alheia
Mão que preserva indecência e a curiosidade infantil
Suficientes pra que apontasse
A mais densa das minhas camadas, a superficial
E me visse fundo.
E a visse, a princípio resplandecente como a água
Mas profunda como um oceano.

E me assaltou.
Preparou-se por um tempo, pondo seus trajes especiais
Me avisando do que ia fazer
Quase como de propósito, pra que eu duvidasse
E me arrebata com uma injeção
Me perfura em um mergulho, e nada em mim
Contorcendo meu ventre, me desbravando o âmago

Me mostrando
Que na imagem tosca que havia de mim
Havia também erro.

Me mostrando
Que bastou a boa motivação
Pra que me pudesse expor

Que meus olhos de nada adiantam
Quando teu tato e tua fala
É que me conduzem.






Eu fui embora.
Suas coisas ficaram aqui.
Em forma de graciosa nostalgia
E de ligeira alegria

Porque um mundo não te conteria
E um oceano te esmagaria
Porque de uma vez
Eu vi o futuro

E nele

Estaria

Universo.

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