Diga: eu sou você.
Não.
Você está numa sala colorida, cheia de polígonos enfeitando paredes e chão. Triângulos amarelos cruzando o chão num fundo vermelho. Quadrados e círculos (respectivamente) verdes e azuis, num fundo roxo. Na verdade, nenhuma cor importa, nenhum polígono, você só está ficando louco.
Você é daltônico, toda cor pra você é forma, todo sentido que circunda essas cores é disforme.
Você é tão estúpido.
Mas, convenhamos: eu sou você.
Ande um pouco por essa sala, seus olhos tão doloridos e judiados. Encontre um corredor.
Encontre Jesus no final de tudo.
Um tiro é uma explosão direcionada em linha reta, para atingir um só alvo. Um revólver é uma bomba. Você não é nada, eu sou você.
Encontre Jesus no final de tudo.
Bem, eu sei que eu sou maluco, agora, andando, andando, e andando, você encontra uma cadeira com um revólver em cima. Você nem sabe o que fazer com isso.
Você é totalmente louco.
Eu sou você.
Mas agora, o pensamento claro, objetivo: eu quero sair daqui.
Desta sua mente.
Cheia de polígonos, insanidades, cores, ódios, vermes, tênias, teias, germes, miolos, distúrbios.
Cores.
Vozes.
Um creme para cabelos cacheados faz seu cabelo tremer em câmera lenta.
Eu quero sair daqui.
Você não pode escapar da sua mente.
Você é estúpido.
Um corredor, atrás de ti, que vai até uma parede.
Uma cadeira, na tua frente, da qual além desta, há uma outra parede.
De ambos os seus lados, paredes.
Preso.
Por que bates teu crânio contra a parede colorida?
Por que mordes tua língua e soltas tanto sangue?
Não precisa de tudo isso...
Tem um revólver na sua frente.
Você não faz nada ofensivo, por quê?
Ah, sim, eu sou você. Blé.
Um sentimento tão entorpecente te invade no meio de tantos sentimentos.
Não derrame sangue. Uma pitada de açúcar já é o suficiente para que uma família de baratas invada.
Bem, depois do açúcar, baratas. Só não sei o que vem depois do sangue.
As cores ao seu redor mudam como se estivesse sob efeito de ácidos, mas nada disto importa, afinal você é doente, daltônico.
Sua mão voando, tremendo, decolando, se aproximando cada vez mais da cadeira, do revólver, a sua única certeza no meio de tanta confusão e merda.
Mas cuidado: eu sou você.
Você não sabe como segurar tal mecanismo. Não sabe porque o revólver está tão gelado, frio.
Mas com o devido uso, vai esquentar, ah, se vai.
Ok, não tem jeito, tudo bem, pode enfiar o cano desse revólver na sua têmpora. Na têmpora que preferir. Vê como é gelado? Vê como é confortável?
Podia ser uma corda.
Podia ser um saco.
Podia ser uma faca.
O resultado seria o mesmo: uma explosão direcionada aos seus olhos.
Evacuação da alma em
vamos lá, é simples, deixe o revólver confortável na palma da sua mão
3
pressione bem a ponta do cano na sua têmpora, ignore o cabelo e o
2
medo.
1
Depois, apenas pressionar o gatilho.
E parabéns! Que Deus continue lhe usando.
CONVERSATION