Sobre o Ócio e a Inutilidade

 Deito em um divã púrpura, espreguiçando minhas pernas e contraindo os dedos dos pés . Afunda o tronco de meu corpo com suavidade entre as penas de ganso e o veludo das almofadas, carinhosas, finas e indiferentes . Afogo-me no deleite do nada, e regozijo-me em pequenos encontros com sono e torpor . São xarope e vinho minhas bofetadas de erudição e descontração nos meus pensamentos singulares e solitários . Converso com minhas mãos, aperto meu pênis, estimulo meu ego enquanto habito sublime no nada ao redor .
O divã suja-se com o esquecimento . O espaço, acompanha-o em viagem pra lugar nenhum, nos fundos da memória não perceptiva, se é que tal coisa exista . Entro em mim, escondo-me por entre minhas cavidades oculares, como uma mosca carniceira . Minhas mãos me traem, me buscam cegamente, e eu passeio .

O passeio em laquê, álcool e nicotina não o faz se perder . A mão o procura, o invoca, clama por sua participação, chama-o ao seu mundo . Ele afoga-se agora no seu tórax côncavo, afoga-se em redes retráteis, em linhas curvas, em esperanças na morte, em morenas que deviam ser brancas.
Em vaginas escuras que são rosas .

A mão o adormece . O passeio de volta o faz voltar . Me faz voltar .
Olha só, estou de frente pra um computador .
Olha só .
Inútil .

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