Algumas Dádivas e Maldição .

Já fazem alguns minutos de chuva e alguns segundos de espera . Quando é pra ficar parado, tudo passa a ser eterno, e eternamente incômodo . Filas de bancos, filas de hospitais . Pontos de ônibus não se safam dessa situação . O incômodo real a ser notado é que não há incômodo em não reparar em mais nada . Afinal, parte-se da premissa de que, entrando em um estado de parada e reflexão, dá-se a oportunidade a mente de abstrair-se e finalmente notar algo do exterior de seu casulo de superproteção . Nada demais, só chuva .
Nada demais, só mais um acidente de carro, mais uma morte, mais uma estatística . Continua a chover e o ônibus não vem . Alguns segundos se arrastam pra minutos, e alguns minutos em horas, e algumas pessoas de seus bancos para a realidade . Por que levantam agora ? Não deviam estar esperando por sua respectiva condução, não deviam ansiar por retornar à casa e à família ? Ela é só mais uma, deixe-a, logo chegam os oficiais do corpo de bombeiros ou a polícia .
Sentem-se ! Eu quero ver, mas não quero levantar pra isso ! Hora, isso não me interessa de verdade . Ela é só estatística, só mais uma morte . Eu tenho que cuidar da minha vida, e vocês das suas . Essa chuva idiota não para de cair .
Ótimo, o ônibus chegou . Não vejo a hora de voltar pro meu lugar . Essas pessoas pelo o visto vão perder o ônibus. Que se danem, preferem se preocupar com a moça acidentada . Só estão perdendo tempo . Eu esperei demais, eu não ligo .
Pronto, entrei no ônibus . Olhem, vou me sentar em um lugar vazio, finalmente . As portas se fecham, e agora a chuva só escorre pelos vidros da janela, e pela mesma, ainda vejo pessoas indo a direção da moça . Ora, esqueçam isso . Eu até esqueci quanto tempo perdi nisso . Enfim, espero que o motorista não vá parando em cada ponto . Poderia chegar em casa e a chuva ter acabado .
Realmente, é um incômodo quando se perde a capacidade de reparar de verdade nas coisas . Minha sorte, não possuo tal incômodo .

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