Amarelo


"Não apaguem as luzes;
deixem o corpo de Jaune quente."

Quando vi o Facebook de Jaune
era essa sua mini-biografia;
uma presença que me acalme
é isso que Jaune me traria. 

Van Gogh enche seus olhos
e eu finjo gostar também daquela obra
daqueles girassóis e daqueles fogos
só para fitá-la, enquanto minha paixão se desdobra.

É quando Jaune me chama para conversar
e eu gaguejo sobre pós-impressionistas 
-- todo um papo que eu pesquisara só para lhe falar
como essas suas sardas são bonitas.

Ela me agradece, nervosa, e eu penso ser um fim
que é sinônimo de um terrível começo;

mas os olhos de Jaune se direcionaram a mim
e aquilo me soou como um recomeço.

E tardaram só alguns meses
para que ela colorisse minhas paredes
minhas janelas e meus arquivos
com aqueles olhos cor de mel tão lindos.

Jaune vivia para o verão
e me arrancou do meu amor pelo outono;
e me convencia mesmo sem razão
que é no sol que encontra-se recobro.

Mesmo sua tristeza é otimista
serena, poética
e eu fico sem entender
como essa poetisa
tão alegre e tão histérica
consegue me prender.

Eu, que sou tão gélido e impróspero
tão apático e incoerente
fui resgatado, eu, essa árvore de junípero;

eu me entristeço em pensamentos como este
mas, às cinco da manhã, geralmente, recebo um SMS de Jaune
e sorrio.

"Deixe as luzes acesas; mantenha meu corpo quente..."

O Homem Amarelo, Anita Malfatti

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