Miss Lisergia

Seu rosto se debruçou sob o meu,
Pupilas enormes, dois buracos negros que sugam minha essência, sem sequer tomar consciência.

Perco a noção do tempo.


Dalí desenha minha realidade,

Alice rege a sonoridade,
Todo ruído externo é distorcido, esticado, remoldado, unicamente para vestir tuas curvas. 
Qualquer coisa que não te caiba simplesmente é descartada, alucinação, loucura, simplesmente não existe aqui, na realidade.

Drogado, imerso na letargia, a única coisa vinda do que já chamei de realidade é sua voz vacilante e rouca.

Rendo minha consciência a seus lábios de cereja, que mesmo diminutos, a muito me engoliram.  

As espirais que descem de seu crânio, lâminas que de minha carne são confidentes, 

Em suas ondulações são najas, penetrando pelos poros. 
Destilando essa substancia alucinógena, antidoto de minha alma, que me anula,
Que dependo.

As borboletas desferem rasantes, suas assas de corte tão eficaz, traçam linhas nesse véu já tão fino que é minha racionalidade.

Racional, não serei, 
Desse estado já abdiquei, só assim posso colocar meus pés sob a areia da praia que é tua iris.
Louco como eu sou,
Irracional como me fez,
Mergulho no oceano que são suas pupilas.

Me afoguei.  


Ficou olhando com admiração para os olhos brilhantes, para os cabelos anelados como os de Baco ou de Apolo, o rosto oval, o pescoço de marfim, os lábios entreabertos e o aspecto saudável e animado do conjunto. Esqueceu-se de todo da ideia de alimento ou repouso, enquanto se debruçava sobre a fonte [..] O jovem, depauperado, morreu.  E, quando sua sombra atravessou o Rio Estige, debruçou-se sobre o barco, para avistar-se na água.




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