Saindo

Havia algo na forma como andava. As pessoas em volta dele se moviam para um lugar, andavam para algo. O movimento de andar para algo, faz com que sua presença se torne translúcida, uma etapa irrelevante e necessária para um objetivo. Um corpo imerso em um movimento mundialmente necessário dentro do mecanismo cotidiano, se move.
Enquanto          anda,           você             está        ali     e    ao     mesmo        momento                 não        está,      seu          movimento         é         constante                                                   e    você só toma presença quando para, já no seu objetivo.
  Mas, seu ser estava ali integralmente. Como se ao invés de usar sua força para se impulsionar em direção a algo, ele a usasse em si mesmo, alimentando a própria essência, sua presença parecia não caber no seu corpo físico, transbordava por seus poros e pairava em volta dele, o envolvendo em uma áurea de si mesmo. Esse agrupamento dentro do próprio ser, invocava magnetismo, que transpunha qualquer noção de racionalidade. Uma ancestral arvore enraizada, se movendo até chegar em um ponto. Ver as espirais acompanhando a movimentação era como ver as folhas dessa arvore, movimentadas pelo vento. A sutil e selvagem ondulação, fragmentos se unindo em sincronia, invocando a presença que só um ser biológico tem.
Sua existência era uma blasfêmia, mais real que a realidade que o cercava, fazendo com que tudo em sua volta desmoronasse, inconcebível.

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