A pressa que criamos se desfaz no que construimos.
Toda nostalgia é imbatível, toda memória poderia ser preservada:
Porque assim vivemos de glórias, do pretérito, de um futuro a muito atrás.
Se nos colocarmos a disposição daquilo que fomos algum dia, e daquilo que queríamos ser no dia de hoje, balanço seria inevitável, perda lastimável, talvez uma vitória; se assumíssemos a beleza da memória, a derrota seria um espaço em branco de um futuro adulto.
Tudo aquilo que um dia fizemos, por hoje sagrarmos a memória, é justificado por ser injustificável. Atire a primeira pedra a criança que primeiro se pôs ao bom senso e à razão antes de se propor ao infantil. Atire a primeira pedra o adolescente que, instigado por sua idade, hormônios ou simplesmente pela busca implacável da beleza, ignorou sua instrução e bons costumes e cedeu ao bom sexo. Que atire a primeira pedra aquele que é, e um dia foi, capaz de não ter nenhuma pressa e que hoje não colhe os frutos de uma derradeira meditação.
E não é pela média que averiguamos as coisas, mas por ser argumento do mais convincente, não cedo em dizer que não são todos aqueles que jogariam pedras, que condenariam a busca da identidade através de uma suposta identidade anterior. Se algum dia fomos, sem pensar em ser, é porque, quem sabe, seremos por pensar que fomos. E assim, tudo pode se repetir, e dar ao sol e ao céu a oportunidade de validar sua máxima, pois nada será novo, e à vaidade sua razão em se estabelecer como doutrina do homem e seu cotidiano, pois é razão do perseguir a existência, que por sua vez, não tem razão.
E não ter razão justifica nosso ciclo de valor. Não ter razão atribui valor abstrato, indescritível, indefinível, de valor não menos importante na nossa construção, só sendo superado pela mesma; e com "construção", quero dizer tudo que envolve nossa lida: o meio que desenvolvemos, o meio no qual atuamos. Aquilo que nos traz memória como salário, e poder como padrão. Aquilo que justifica a memória, como o grande picadeiro do irracional.
O nosso grande picadeiro. Sendo as construções em primeiro, e tendo elas o objeto das relações, sejam elas sociais ou inerentes a pessoa do indivíduo, a memória trata do último círculo da intimidade de qualquer ser vivo. Se tratada como antro da irracionalidade, é impossível de ser medida pelo nosso único padrão.
Perseguimos uma realidade, um personagem, sem nome, sem identidade, sem gênero. Nossa memória é uma sombra que, quando contraposta à luz da razão, torna-se oblíqua e alucinógeno, incentivando nossas carapaças cinzas com propósito. Mesmo que vulgar, mesmo que passageiro.
Tão passageiro quanto a própria glória.
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