Elogio ao egoísta





Eu sou um sopro.
Pairo pelo ar, pelas pessoas;
as observo, ainda sem interagir,
como faria ao contemplar peixes em um aquário.

Uma brisa, que multiplica frio 
- ausência, de calor e de afeto -
um vento que assim vai, distante,
ainda que presente, levar, aonde,
descontente, alguma fatia, porção,
de olhar, agravante, gratidão.

Eu fui vida, de pó em pedra,
de barro em dorso, peito e músculo
que ocorre, as vezes, opúsculo,
eu vi, não vi, da vida em mim,
A lida em si, que me tira, me remove
me aliena e me transfere, de mim, de corpo,
de ouro, barro, pó e pedra, voltando ao sopro,
sopro que sou.

Não serei.
Fui e estou sendo.
jamais fui, mas vou vivendo.
Não vivo, porque fui e quero ser,
Não vivo, porque quero ser o que nunca fui,
Não vivo, porque não queria ser o que fui,
Não vivo, porque vou ser, nos meus sonhos,
aquilo tudo que sou hoje, com aquilo tudo que queria ser,
com aquilo tudo que podia ter feito.
Não fiz.

Como um sopro pode fazer?
Não encosto; esbarro
Não beijo; esbarro
Não abraço; esbarro

Eu fujo
Fujo
Fujo

Do barro, do ser,
Do corpo e do querer.
Eu fujo do "eu fujo".

Fujo.
Eu sou barro.

Você é barro,
te encontrei sólida por aí,
Nos meus ventos desaventos,
Venturas das boas vindas,
desventuras das igualmente boas derrotas,
e você, lá, terrota, macia e dura,
mole, contorce, úmido, machuca,

arde, arde, arde
Prazer, você,

Amor, de vida em mim,
Mim que sou sopro, derrota do corpo
Eu que sou terra, falência
Eu quero o você do você me quer.

Quero ser duro e terroso
Queria ser amplo, espaçoso
Como vento lá fora, como tudo lá fora

Tudo o que está fora de mim é você.
Eu busco de mim o que me é alheio, externo.
Tudo o que me é externo é outro "me"
Mim encapsulado, corpotado em vários "mims",
comportado fora de mim

Fora de você.

Queria voar.
Eu que voa.
Ego alado.

Eu sou um sopro.

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