Digníssima Memória


Colcha como fardo sobre meu corpo, som ensurdecedor pela manhã:
Acorda, é hora do batente, que precede
comida, sonho e amor.

Café como religião, atenua o corpo, esquenta a mente, esfria coração.
Pressa na respiração, nas esquinas, no transporte.
Cuidado é vago, quando não há vaga.
Carinho é nulo, quando há carrinho cheio.

Mentira que você se importa.
Eu queria que fosse verdade.
Mentira que você se apega.
Ninguém mais faz isso, uso e jogo fora.

Me usam e jogam fora.

Na volta ao passado, eu encontro utopia
Não ideal, mas ao idealizar, encontro a paz
Porque a própria esperança, dependente de futuro,
Já me faz ter medo.
Ela, na sua infantil mania de não me cobrar infantilidade me assusta
E muito

Porque ainda não aprendi a viver gente, nem a crescer como uma.

Mentira que você se importa.
Não queria que fosse verdade.
Mas, no não saber o que fazer
Mediante ao não querer saber
Nem fazer
Me esquento
Nas minhas memórias
Em nostalgias
Em infantilismos.

Porque o fardo da colcha e a queimadura de café me sondam
Porque meu futuro me sonda, e me bate à porta
Perguntando, se utilizando de ensurdecedores barulhos
Quando é que, de fato, eu vou acordar.
Quando é que, de fato, eu vou acordar?

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