Simetria

As linhas seguiam-se,
lá em cima, no telhado
em diagonal direcionadas
nunca fora do padrão,
sem pausa para descanso.
Nada mais e nada menos que X
como sediando uma voz que diz:
''cá estou, e nunca sairei daqui!''
Entretanto, lá estavam as linhas,
seguindo sempre a mesma direção.
Constituindo toda a telha d'uma casa
logo, lá jazia um aglomerado de linhas diagonais
seguindo uma beleza quase simétrica
mas as artes simétricas eram indiferentes,
e mesmo retas, as linhas não agiam como tais.
Como que constituídas por polos persistentes
as linhas permaneciam lá, numa só direção
com o único, fixo e impermeável número X de distância.
E lá estava eu, fitando toda aquela exótica certeza
quase que sediando a ânsia.
Mas lá estava o tempo, rindo daquela exótica certeza
dizendo: ''É hora de saírem do lugar, pois até mesmo
a linha mais pertinente, há de sediar sua leveza!''
E dito e feito: as linhas passavam a não resistir
ás palavras do tempo.
E a resistência causava manchas em toda textura das linhas
manchas negras, diferentemente a cor das linhas, todas marrons
e vermelhas, eram criadas, eram espalhadas.
Manchas negras de torpor, nas linhas começavam a habitar
e o demônio da simetria, nas linhas preso, começava a se espernear.
E como um inseto enfim nascendo, uma secreção era expulsa
lá de dentro das três linhas centrais,
e como que criando coragem, a secreção começava a tomar forma.
E nada simétricas...
Curvas
espirais
um rodízio de bagunças!
Manchas e novas cores! Risadas e velhos porres!
As linhas começavam a se entortar, mesmo sabendo que o teto iria desabar.
Junto a grande secreção que no chão começava a pingar
(e forma de massa começava a ganhar)
as manchas se tornavam rostos, rindo junto as linhas, que já desistiram
de seguir um só padrão
agora e para sempre, seria apenas e unicamente diversão.
E eu ria junto todo aquele coro, todos gritando:
''Se nossa vida for simetria, e simetria for seriedade
prefiro moldar e cortar um coração torto
viver, enfim, em liberdade!''