6.

Dedico-me a esquecer o que deveria lembrar . Me perguntas, leitor, por quĂȘ ? Pois me crio em um pretĂ©rito, qual tempo
deveria lembrar do que me proponho a tal, uma expectativa de futuro mediante Ă quela proposta . Se quero lembrar de escovar os dentes
me imagino sem ter de escovå-los caso esqueça, e caso me lembre, trarei a minha imaginação tal imagina de limpeza dentåria .
Mas me parece tão importante sublinhar "minha imaginação" em tal indagação : São minhas expectativas de lembranças decorrentes
de outras experiĂȘncias de limpeza de dentes que me garantem tais resultados . SĂŁo minhas imaginaçÔes, e se nĂŁo se remeteram a situaçÔes jĂĄ
vividas, são imaginaçÔes alheias . São negaçÔes da realidade, admita . Então, a quem se deve culpar agora ? Seu cérebro por tais lembranças?
Seus olhos, por tal imaginativa criação do que possivelmente não existe, ou seja, o ideal ? Seus håbitos que ditam as verdades do porvir do fazer ?
NĂŁo .
São os olhos do escuro . É o breu . Sua falsa sensação de liberdade . Sua filosofia requintada . Sua mediocridade em não seguir instintos .
Imagine algo novo . ImpossĂ­vel . Imagine algo certo . TĂŁo impossĂ­vel quanto, se nĂŁo pior . Como pode dizer que serĂĄ feliz entĂŁo ao fazer tal coisa ou deixar
de fazĂȘ-la ?
Tu diz-me que não hå respostas pra tais perguntas, não hå padrÔes . Veja se sou homem de padrÔes . Veja se sou homem que se contenta com respostas .
Sou um hipócrita, esqueceste . Sou covarde, esqueceste . Esqueci-me . Esqueça .
Grato, meu pai . Grato, minha sombra . Esqueça .


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