1990

Eu não sou tão bom pra escrever algo sobre amor . Nem sobre estar apaixonado, nem sobre conhecer alguém de que se goste tanto, que sua vida passa a ser um pouco menos vã . Afinal, não sei se é possível reproduzir algum sentimento de aceitação, já que o pressuposto é que se quebre todos os pressupostos impostos sobre qualquer sentimento e se passe a construí-lo . Mas, aceitação, não é construção . É aceitar . Não se exige mérito de algo que se aceita, não se espera nada de algo que se aceita . Se eu digo “sim”, por exemplo, em qualquer proposta ordinária que alguém possa me fazer, essa pessoa aceitará sem questionar. E se questionar, será porque eu escolheria sim. Se respondo “não”, a única pergunta que é feita é “por que não ?” .

De forma simples e ideal, ser aceito é algo claro e analítico, sem capacidade de uma obeservação a posteriori, por sua complexa simplicidade . Mas se ao expandirmos “sim” e “não” para “por que assim ?” ou “sim, e por que não? “ . A possibilidade de chances e tentativas aumentam nesses casos, e a compreensão se limita . Não se esclarece o que é e nem o que se ama, a não ser por alguns usos indiscriminados de termos como “ tudo “ ou “ sua beleza “ .
É difícil se colocar em algum lugar, difícil se reconhecer lugar . Se tomarmos o lugar da questão, como o melhor lugar – Algo que, comumente, chamamos de “casa” ou “lar” – A questão pode ser julgada como beirando o impossível . É um equívoco aglutinar tantas perdas, decepções, falhas e aspectos distorcidos ou pervertidos de uma persona manchada, um erro apontar como as imperfeições podem ser perfeitas, e uma impossibilidade reconhecê-las assim . São um conjunto de sardas e sinais tão grande, que nos cobre o que é mais belo com sangue e joio . E se, escolhemos crer nisso, fazemos da desilusão morada . Afinal, é pertinente a falta de função, a escolha de lugar, a indecisão, a confusão . Como se espera algo disso .

Do outro lado da mesma moeda, se aceitar é incrível passível da normal . É, inclusive, condição fixa e primordial pra se amar : Se eu amo, eu aceito incondicionalmente o tudo em que se faz pessoa no indivíduo que amo . As imperfeições são puramente desconstruções do que se esperava de tão conforme, as falhas são tentativas vistas de um ângulo errado, os lares abandonados e os traumas são a perspectiva em um quadro de Dalí . Eu não toco na pessoa que amo, eu afundo a mim mesmo, e prospecto o seu âmago em busca de todos os segredos e escuridões . É aceitação alheia que me encobre da confusão e a comparação das personas que mantém a minha incapacidade de me compreender . Só se eleve o que se quer compreender e se esquece de ser compreendido . De formas mais simples e subjetivas, nós temos como gerador de aceitação a propagação da simplicidade no fazer . Um toque, um olhar, algo que se deixe passar é pista ;
Um gosto, um cheiro, uma marca, é arte e expressão ;
Uma teoria e paradigma são visão ;
Fechar os olhos significa abri-los .


Portanto, eu ainda não sei o que escrever sobre amor . Porque, acho que sinceramente, nunca vai passar de um paradoxo : Um egoísmo altruísta, um mérito que se aceita . Eu teria que continuar pra que ideias fossem expostas, mas a exposição é o cotidiano, e o explícito é a impressão . São perdições, e não tratados e portanto, a dissertação é considerada .
Alguma vez, alguém já foi aceito ?

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