Restos


Não posso mostrar ter, de fato, segurança
e nem me certificar da minha honestidade
mas aquilo o que defendo estará em minha realidade.

Folhas de revista, ou um tão funesto
e tão visceral conteúdo literário.
Ambas fazem com que eu me veja como o resto
dessa massa de entorpecidos.
Não me vejo mais seguindo horários
tampouco inserido no seguro manifesto
mas sim nesse discurso torpe
e na subjetividade evidentemente pobre.

Não posso te provar a minha honestidade
mas os sentimentos que acolho,
os viverei com real intensidade.

Creio que já fui percebido;
eu me escondo por orgulho
e não me orgulho de fazê-lo.
Eu já devo ter adoecido
afogado no absurdo
ainda que sem vê-lo.

Nós falamos para esconder
e nossos gestos são simulacros.
Me sinto agora perdido no cio de viver
onde meus sentimentos são massacrados.

Não posso garantir a minha integridade
mas a vida que vivo se resumirá a mediocridade.

Não me restam mais mentiras, e por isso eu sigo
me servi da misantropia para amar a tudo senão os outros
mas agora vejo que essa é a maior mentira que vivo
de pensar que estou cercado por corpos ocos.

Enxergar cores onde estou
também me foi um erro.
Há só cinzas, cinza e restos do que sou
há só eco daquilo que é verdadeiro
que é como doença ou endorfina
como arte ou paz; poesia ou desespero.
É, como tudo até então, ardente ferida.

Não posso provar que amo de verdade
e nem me prender naquilo que amo
mas enquanto estiver respirando
viverei cada partícula desse mundo com toda a fidelidade.

Fidelidade que não tenho... com o que posso suprir?
Se em cada lugar que estou, minha vontade é fugir
me assusto com cada reflexo que não é meu
e toda vez que vejo o meu próprio, sinto que não sou eu
e não serei eu enquanto não for sincero
pessimista, cético, dionisíaco
não serei eu esse clero
não serei eu esse empírico.

Não posso mostrar mais do que posso
nem prometer mais do que tenho
mas não restará do meu desalento
nada senão ócio.

Nada senão ócio.
Nada senão o pecado travestido de liberdade
eu posso oferecer
mesmo que haja esse divórcio
entre o que sou e o que quero ser.

Não posso vos certificar, por fim
da minha honestidade.
Mas aquilo que restar de mim
estarei despejando pelas ruas da cidade.

Tragédia

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