[II] 03/11/14 | Primeiro espelho


No lugar de bochechas, uma lona
repleta de impurezas e caroços amarelados,
esticada ao seu limite.
Outrora, o queixo, agora um amontoado de pele,
similar ao papiro, onde se vê perfeitamente o contorno
da mandíbula, o aparelho.
Osso saltando sobre pele.
As olheiras começam onde as orbes do cranio terminam,
uma membrana roxa pontilhada por bolotas amareladas
É o que sobrou de você, após um olhar inofensivo.

- Eai, o que vai ser ?

O que sempre foi.
Essa imagem refletida,
cachos muito fechados,
olhos marcados,
abrigando olheiras roxas.
Pontos amarelados, saltando por toda a extensão,
lábios mutilados,
nariz grande demais,
agonia.

Durante todos esses 13 meses, você perdeu a sanidade
para esse corpo anoréxico
e enlouqueceu perante a ele.

Ele sim existe, foi o único, esse tempo todo.

Pare de repetir que vai
arrancar, espremer, apagar.
Não vai porque ele se apoderou de você,
come cada parte de sua alma, suga toda sua sanidade.
Causou danos irreparáveis.
E ainda habita ai, um verme gordo, morando em uma carcaça
aprisionada por pele, se vangloriando do estrago que causou.

E ele não existe
Nunca existiu.



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