Sobre o Que Escrever, Falar ou Pensar


Se me perguntarem sobre o que escrevo, direi que é um ódio irracional que sinto das coisas geradas pelo abstrato ódio que sinto pela vida. Não há gênero nem paráfrase nenhuma nisso. Não se autoexplica, por ser tão complexo. O que escrevo já não se revela. Não se concretiza. Flutua, é concepção. Mas nunca se compreende por inteiro. Há sempre uma fase escondida, a parte escura de um planeta.
Não é como o surrealismo, que se encontra nos sonhos.
As crônicas, que se encontram na realidade.
A fantasia, que se encontra na imaginação.
O horror, que se esconde na mente.
Não, não é nada disso. O que escrevo é parcialmente incompreensível.
É como cama, por ser onde nego minha existência através de sono, insônia e letargia.
É como banheiro, onde me masturbo, choro e banho meu rosto.
É como chuveiro, onde banho a alma.
É como sala de aula, onde nego minha existência através de sono e frustração.
É como casa, onde me sinto confortável e definho. É efêmero, por ser como fase. Na verdade, é fase.
Mas agora, fase e eternidade são conceitos ironicamente próximos em minha mente. Desde quando o efêmero se tornou tão eterno em nossas vidas?
E aproveito para dizer: desde quando o enfermo representa tanta sanidade?
Se a doença e a confusão me mantêm mais próximo do que é real. Se me mantêm mais próximo do mundo - por esse ser tão particularmente perigoso e imprevisível. Mas supondo que sejamos parte dele, o que somos? Tumores? Cistos?
Eu nunca poderia imaginar também que, sendo insano, poderia conhecer melhor o mundo, e conhecendo melhor o mundo, conheceria a normalidade. Ou eu estaria me isolando no meu próprio mundo?
Bem, não acredito nisso - esse mundo cheio de prédios e papéis não me parece, na verdade, real. Não me parece são. Então, por que me chamam de louco? De psicopata?
É impossível escrever sem conhecer as palavras - igualmente difícil ler sem interpretar conceitos. Leia-os, releia-os, responda-os... te apetecem? Mas o que significam?
Meus conceitos, por fim, têm se tornando merdas abstratas e distantes, substituídos por emoções.
Bem, sobre o que escrevo, afinal? Sequer sei.

Share this:

CONVERSATION

0 comentários:

Postar um comentário