Anarquia gramatical

Odeio as palavras,
a forma como elas me despem, me deixam exposto, atacado por olhares.
Meu sangue esquenta quando elas se organizam em estrofes e se tornam um autorretrato, rascunhado as pressas por linhas pobres.
As destruo quando montam um perfeito retrato teu.

O ódio me cega,
em vezes sou sufocado por símbolos inexpressivos.
Uma palavra não é mais que um guincho, minuciosamente articulado, no qual eu e você atribuímos um significado.
Quando me sento e sinto a realidade se desprender de mim e cair ao meu redor, a conexão recíproca desses significados se quebra.
Mergulho em um fluxo abstrato de explosões, inexpressivas por meio de símbolos.
O âmago entra em abortos consecutivos, não me expresso, afogado em sentimentos inconcebíveis, fetos que se fazem mortos antes de nascer.

Sentimentos mortos que se calcificam e formam cistos, tumores, abcessos, cravos, espinhas.
Pendurados em meu corpo, são adereços da irracionalidade.

O que as palavras não podem expressar sequer posso ler,
palavras mudas são loucura.

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