Sanatório

As portas do sanatório
sempre estiveram
abertas para mim.
Minha fúria inconsolável,
minha mente mais que abrupta,
minha impulsividade que me guia,
meu colo mais que afável.
Minha vida reduzida a passos ignotos,
então apenas faço
o que faria Maquiavel.

Essas notas ignoradas
esses rostos desfigurados
apenas adentram a paisagem
condensam entre essas lágrimas vermelhas.
Mosaico, sépia, configurações erradas.
E eu simplesmente ouço a exclamação!
Esses jalecos, essas seringas,
eu não pertenço a este lugar,
e minha felicidade é extinta.
O homicídio se torna
uma tentação adorável.
Então, simplesmente faço
o que faria Maquiavel.


Existem janelas?
Existem portas destrancadas?
Existem pessoas?
Nesse mundo fechado, padecerão.
Se existem janelas,
vejo minha amada passar.
Se existem portas,
elas deixam passar o vento frio
das noites de inverno que quis ignorar.
Se existem pessoas,
oh, Deus, quais terei que enfrentar?!
Risos da síndrome, acefalia,
mitos de uma dor visceral
e uma dor que se torna aceitável.
Me sinto péssimo aqui.
Então, chega a hora de fazer,
o que faria Maquiavel.

Pobre Isabelle,
o seu riso era tão feliz!
Seu sacarmos genuíno!
Digno de uma sagaz meretriz.
Brindávamos nosso mais
caro champanhe.
A taça nos falava os segredos
que ouvíamos também
das toalhas de mesa.
Manipulávamos com maestria
nossa lustrosa gentileza.
Mas agora, seu riso, Isabelle,
é amargo.
Como pode rir
desse pobre gatinho decapitado?
Pegue essa faca, querida Isabelle
e faça então,
dessa sua silhueta invejável,
esse ato injustificável.
Exatamente
o que faria Maquiavel.

Querida Esther,
creio que está presa
nas convicções que gostaria
de chamar de destino.
Ainda temos tempo para ler
nossas mãos?
Tempo para refletir nosso cimo
e contemplar o quão pisciano
isso tudo têm sido?
Nossas piadas de cigano,
que poucos surpreendem,
ainda me perseguem, querida!
Banhando-se no sangue
do seu próprio gatilho

você sabe que está errada.
Sentindo na pele,
essa doce encruzilhada.
Sua pele chocolate,
sua fome pelo místico,
usando o que chamavam de
estranho,
se convertem todos
em histórias
nesse lugar sangrento
e desumano.
Vista seu manto escarlate,
cubra sua pele de chocolate,
pegue sua foice
e me conte seu mito admirável.
Siga-me e faça então
o que faria Maquiavel.

Então, me sento
nesse quarto de madeira.
Ouço passos pelas escadas,
vejo sangue no escuro
quando o chão é iluminado
pelos trovões.
Pego minha pena e passo no sangue,
escrevo tudo isso em papel velho,
os rostos loucos,
pensando no tempo sujo que passou,
escrevo aqui então,
o que escreveria Allan Poe.

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