Grande/Veloz/Violento



Nos pequenos espaços, ocupava-se das mais laboriosas empresas; do esforço retirava ocupação, tal que se apresentava como prazer.


Nos maiores espaços perdia-se, pois que se achar abstente de números e datas era subjetivar, esforço inválido, inconveniente.


Assim, repetia, em magno tempo, mínimos hábitos. Manias acusavam a identidade, estrangeira à lida, desnecessária à rotina. Retirava de si mesmo fração do que lhe era útil, e o inútil fica a quem o assistia. Intenção social era já esforço de Odisseu.


E por falar em Odisseu, epopeia era o sonho. Pois se achava em contrários: primeiro, a progressão - esta, essencialmente positiva -, segundo, o romance - este, essencialmente erótico e pictórico, se vocês sabem o que quero dizer com isso -, em terceiro, a carência, - este, que é substituto pós-moderno ao descanso -. Concebia os estados pois lhe eram, religiosamente, estrangeiros.

O estrangeiro, onde Odisseu encontrou outrora sua aventura. O estrangeiro, onde este que sonha reside em imaginação.


E nos pequenos espaços que lhe dava brecha a mente e a ânsia, transpunha-se em espírito ao achado que lhe fosse mais estranho, ao país de príncipe mais excêntrico, ao perigo que lhe fosse confortavelmente transponível, à mulher que lhe fosse sexualmente passível aos mais luxuriosos de seus desejos.

E nos maiores espaços, abortado era do sonho, posto era em devaneios sociais e trabalhistas(tais como justiça e integridade de caráter). E todo o subjetivo lhe era subtraído em força e raiva, e toda construção lhe era desconstruída, e toda besta era novamente intransponível.

Teus espaços foram enchendo de barulho
Tua vida foi-se enchendo de barulho.

E nos pequenos espaços, repletos, antes pelos sonhos e agora pela desesperança, nota a vida a se dar:


Em telas de cinema
Em telas de computador


E nos maiores espaços, locomotiva vem e passa em fúria. Cuspindo, por sua vulgar chaminé, a verdade e a realidade. Trotando em cima dos trilhos, trilhos feitos de ossos humanos, rodas feitas de trabalho humano. Preenchida, até lotação indecente, por homens. Transportando, até lotação indecente, mulheres, como carnes.
Indo ao progresso arbitrário, ao acúmulo  alheio.

E este, em um quarto observa-a a passar.
E este, a deseja, de toda forma.

"Me leva.
Que dessa vida não tiro mais nada
Meu coração é seco.
Minha mente é sexo.
Minha carne é fraca"

Grande é teu remorso.

Veloz é tua morte.

Violento acaso.

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