No Final das Contas, Não Passo de um Estorvo
não olhe
me vejo, daqui há alguns anos
feliz e calmo, como se estivesse morto
derrotado, como se estivesse vivo
e estaria de fato vivo, se ainda tivesse desejos
motivações e realizações.
talvez isso tudo aqui ofenda
mas não se preocupe
vocês não viram
que há um morto entre vocês
e não ouviram, nem de perto
esse grito agonizado
a negligência irá remover
esses vestígios de preocupação
a autopreservação não irá deixar
vocês se importarem
ou se prenderem
nem a morte os fará refletir
e a vida segue em círculos
nem a morte, que seria tal escândalo
fixará esse momento na história
.não há ponto fixo no tempo.
mesmo o sangue, que durante dias
brilhará em seu tom escarlate
e pouco a pouco se juntará ao ciclo indiferente de todas as coisas
e o mesmo acontecerá com qualquer um
os olhos cansados
as costas machucadas
as lágrimas presas
torturadas pela incerteza
de um futuro qualquer
e isso se repete
dentro de qualquer um.
nenhum brilho ou profunda escuridão
nota-se perante essa inconsciente indiferença universal
afogar-se não é difícil
nesse retrospecto contínuo de pessoas. e mais pessoas.
totalmente cêntricas... imprestáveis
tão condenadas em suas misérias
que deveriam agradecer pelo ódio que sinto por elas
e pelo pouco de fé que nelas ainda mantenho.
me vejo, daqui há alguns anos
feliz e calmo, como se estivesse morto
derrotado, como se estivesse vivo
e estaria de fato vivo, se ainda tivesse desejos
motivações e realizações.
talvez isso tudo aqui ofenda
mas não se preocupe
esse é apenas mais um silvo
um teimar, um dique de ideias sobrepostas
a tênue intersecção entre o narcisismo
e a esperança de dias melhores
mais um entre dezenas de outros silvos idênticos a esse
mais uma ignorância entre muitas outras vividas
um grito de nada
não, desculpe
um grito de liberdade
num mar de olhares censurados.
não, desculpe
um grito de liberdade
num mar de olhares censurados.
não olhe.
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